«A criação poética, como as grandes aventuras do espírito, está
envolta em mistério e enigma. A sua vida encontra-se constantemente suspensa de
um sopro ou alento, de um suporte, de uma inspiração que a anime e lhe dê voo.
É, por conseguinte, a expressão de uma existência inquieta, em sobressalto, em
cuidado. Ou seja, o meio ou ecossistema onde a poesia ganha vida é, desde as
suas origens, desassossego, agitação, impetuosidade, inquietação.
O elevado estatuto do poeta, tal como o elevado estatuto do
profeta, radica precisamente aqui: ele é o mediatário, o mensageiro de um
passado esquecido ou ignorado, de um presente oculto e nunca suspeitado e de um
futuro que virá.
Fluxos da Memória, para além de todos os méritos literários
e poéticos, é também um tributo ao respeito pela língua e ao (bom) gosto
da escrita. Concretamente, estamos perante um texto de um elevado nível
literário e de um apurado e profundo sentido poético.
Consequentemente, constata-se um tão raro quanto louvável domínio, correcção
e controlo das possibilidades e virtualidades da língua e da escrita.
Hoje, ainda mais do que ontem, é urgente (…) é necessário
relevar a boa escrita. É que hoje, fala-se muito, mas diz-se pouco; escreve-se
imenso, mas pior; diz-se que há ideias, mas sem ideia nenhuma.
Em Fluxos da Memória,
as palavras não são zurzidas nem molestadas, os períodos uma tortura, os
parágrafos um massacre e, pasme-se, os sinais de pontuação regressam,
estão perdoados! E nem quando a autora abandona, por momentos, o registo
poético, recorrendo ao texto em prosa[1], não insiste na nota de
rodapé, não salta, continuada e reverentemente, para o colo da citação e não
ameaça, ponto sim, ponto não, com o pai da ‘doutrina’.
Fluxos da Memória revela um traço extremamente invulgar:
a autora tem pensamento próprio, tem uma ideia. E esse é um traço
que distingue e diferencia as obras pensadas, vividas, autênticas e maduras,
das…outras.
Deixa-se aqui, e para
concluir, uma última sugestão aos futuros leitores: mãos à obra!»
Professor Doutor José
A. Caiado Ribeiro Graça
Porto, Abril de 2013
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