domingo, 16 de novembro de 2014

Texto da contracapa desta obra – excerto do Prefácio, escrito pelo Professor Doutor José A. Caiado Ribeiro Graça (Filosofia)



«A criação poética, como as grandes aventuras do espírito, está envolta em mistério e enigma. A sua vida encontra-se constantemente suspensa de um sopro ou alento, de um suporte, de uma inspiração que a anime e lhe dê voo. É, por conseguinte, a expressão de uma existência inquieta, em sobressalto, em cuidado. Ou seja, o meio ou ecossistema onde a poesia ganha vida é, desde as suas origens, desassossego, agitação, impetuosidade, inquietação.
O elevado estatuto do poeta, tal como o elevado estatuto do profeta, radica precisamente aqui: ele é o mediatário, o mensageiro de um passado esquecido ou ignorado, de um presente oculto e nunca suspeitado e de um futuro que virá.
Fluxos da Memória, para além de todos os méritos literários e poéticos, é também um tributo ao respeito pela língua e ao (bom) gosto da escrita. Concretamente, estamos perante um texto de um elevado nível literário e de um apurado e profundo sentido poético. Consequentemente, constata-se um tão raro quanto louvável domínio, correcção e controlo das possibilidades e virtualidades da língua e da escrita.
Hoje, ainda mais do que ontem, é urgente (…) é necessário relevar a boa escrita. É que hoje, fala-se muito, mas diz-se pouco; escreve-se imenso, mas pior; diz-se que há ideias, mas sem ideia nenhuma.
Em Fluxos da Memória, as palavras não são zurzidas nem molestadas, os períodos uma tortura, os parágrafos um massacre e, pasme-se, os sinais de pontuação regressam, estão perdoados! E nem quando a autora abandona, por momentos, o registo poético, recorrendo ao texto em prosa[1], não insiste na nota de rodapé, não salta, continuada e reverentemente, para o colo da citação e não ameaça, ponto sim, ponto não, com o pai da ‘doutrina’.
Fluxos da Memória revela um traço extremamente invulgar: a autora tem pensamento próprio, tem uma ideia. E esse é um traço que distingue e diferencia as obras pensadas, vividas, autênticas e maduras, das…outras.
Deixa-se aqui, e para concluir, uma última sugestão aos futuros leitores: mãos à obra

Professor Doutor José A. Caiado Ribeiro Graça
Porto, Abril de 2013


[1] Vide, v.g., pp. 10-23; 72-73;84-85.


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