«Sempre
que um Poeta nos dá a conhecer a sua obra, é a Poesia e a sua poesia que se
torna a protagonista no palco onde a ouvimos e se expõe. Afinal, a obra fica
para além do seu autor e, neste sentido, ultrapassa-o, mesmo que ninguém a
leia.
A obra
clama pela eternidade que contrasta com a efemeridade física da pena que a
lavrou no auge de um momento de glória, com o punho erguido pela seiva que a
vivifica e torna animada, coisa viva, por entre o suor ou as lágrimas, nem
sempre de alegria, nem sempre de dor.
É por
esta via de protesto da luta do tempo com o Tempo, que se imortaliza o nome da
mão e do pensamento que a ergueu, porque nela deixou o seu sangue, que é o seu
espírito impregnado em cada palavra dita ou não dita, a sua identidade
irredutível, nunca substituível por nenhum outro, mesmo que o Poeta não saiba o
que sobre si mesmo dizem os seus versos.
O
tempo do Poeta, sempre o nosso tempo, é o da Sociedade em que está inserido, o
da Cultura que a move ou desvirtua. O tempo do Poeta é o tempo recente e
presente que não se perde na vertiginosa passagem dos séculos que lhe sucederam
ou que lhe sucederão.
O
tempo do Poeta é o hoje que, do outrora, se projecta num futuro a desenhar, uma
vez que é à visão do seu quotidiano, igualmente o nosso, que vai buscar a
inspiração facilitadora da conquista da atenção dos seus ouvintes, dos seus
leitores, até mesmo dos seus seguidores, discípulos, presentes ou vindouros.
Esta tese é simples de demonstrar: é a Poesia que fala em nós, e não nós que
falamos por ela; é a Poesia que nos interpela, e não nós que a interpelamos.
A
Poesia, como qualquer outra forma da Arte se dar, é, genuinamente, fruto da
imaginação criadora e, portanto, possui uma autonomia própria que a torna
independente do seu autor, sem jamais o esquecer, e dos seus leitores que, a
limite, dela tomam posse no sentido físico, espiritual e emotivo do seu ser
obra, destinada a todo o tipo de interpretações.»
Isabel
Rosete
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